segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um corte de Garnatxa e Samso

Outra boa surpresa da Espanha, dessa vez de Montsant, uma Denominação de Origem da Cataluña, que circunda a DOC mais famosa, Priorato.  Não é à tôa que queria fazer um curso de espanhol em Barcelona e desisti porque acho que não vou aprender muito lá: custei a entender o rótulo!

O contra-rótulo dizia que se tratava de um corte 50% Garnatxa e 50% Samso, em catalão.  Em bom espanhol, descobri se tratar de Garnacha (Grenache) e Cariñena (Carignan).

Montsant está na província de Tarragona e a D.O. foi aprovada em 2001.  São muitas as castas permitidas: Chardonnay, Grenache Branca, Macabeo, Moscatel, Pansal e Parellada para brancas e Cabernet Sauvignon, Carignan, Grenache, Merlot, Monastrell, Picapoll, Syrah e Tempranillo para as tintas.

Sobre o vinho:

Xabec 2008
Produtor: Celler Malondro
Castas: Grenache e Carignan (50/50)
Envelhecimento: 14 meses em barricas de carvalho francês
Pontuação: 92 pontos RP (acho que estou encontrando uma área de convergência com Robert Parker)



Notas de Degustação do Importador:
Cor púrpura com aromas minerais, de lavanda, cereja preta, ameixa preta, concentrado e maduro, tem estrutura suficiente para evoluir muito bem.
Sugestão de Harmonização: Cassoulet, Ossobuco, Caça com molhos densos e condimentados.


Meus comentários:
Nariz complexo e muito agradável de cereja e alcaçuz, com notas de especiarias e madeira.  Em boca, muito equilibrado, taninos macios, corpo médio, final persistente de especiarias e chocolate.  Madeira muito sutil, deixando as características das castas se manifestarem. Maduro, apesar de permitir guarda de até 10 anos. Excelente!!
Melhor ainda com o preço: R$ 49,00
Harmonização: Leitura de Domingo

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Uma boa surpresa de Bierzo

Segunda-feira resolvemos abrir uma garrafa de um vinho recebido do Clube do Vinho da Grand Cru. Mas, como disse, era segunda e, ainda por cima, o primeiro dia útil depois de longas férias, dedidi apenas provar (isso, um gole apenas!).  Ok, vinho bom, nada demais.  Ainda não tinha lido a ficha técnica do vinho e nem sabia qual era a casta, o rótulo só trazia o nome, a safra e a Denominação de Origem.

No dia seguinte, resolvi experimentá-lo direito e o primeiro impacto veio pelo nariz.  Aromas intensos de frutas bem maduras e madeira, leve toque de agradáveis especiarias.  Várias inspirações depois, era hora de levá-lo à boca, que comprovou e superou as expectativas (ok que as expectativas iniciais eram bem baixas).  Vinho muito equilibrado, aveludado, taninos finos, corpo médio, final prolongado e agradável de frutas e baunilha.

Encantada, esqueci meu jantar de lado (não, não é sinal de alcoolismo) e me dediquei à minha taça.  Curiosa, decidi procurar saber do que se tratava e, pelos 91 pontos de Robert Parker, acho que já consigo reconhecer um bom vinho!


Sobre o vinho:

Gotín del Risc 2008
Casta: Mencía
D.O: Bierzo, Espanha
Fermentação em aço inoxidável por 20 dias.
Fermentação malolática em barricas de carvalho francês.
Envelhecimento por 15 meses em carvalho francês.
Sugestão do produtor: decantar por dez minutos (o que, se eu tivesse feito, talvez teria evitado a minha primeira impressão equivocada!)


Recomendo e vou comprar novamente, especialmente pelo preço: R$ 49,00 na Grand Cru.
Boa dica para o fim de semana!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Se não se pode ter o carro...

Em uma visita à Cittá della Pieve, uma cidade medieval na Umbria, experimentamos um vinho da região, produzidos pela família dos antigos proprietários da Lamborghini.  A vinícola foi adquirida por Ferruccio Lamborghini nos anos 70, após ter deixado a montadora.

A Tenuta Lamborghini está localizada na fronteira entre a Umbria e a Toscana, na cidade medieval de Panicale e possui atualmente 20 hectares de vinhedos.

Desde meados dos anos 90, a vinícola está nas mãos de Patrizia Lamborghini, que tem planos de ampliar os vinhedos para 32 hectares, como era no início, com foco em maior densidade com clones selecionados.  Hoje, a densidade é de 5.500 plantas por hectare e o rendimento é abaixo de 1,5 kg.

Sobre o vinho:

Lamborghini ERA, IGT Umbria, 2008



Seu nome foi inspirado na montanha Era próxima à vinícola e, na mitologia grega, Era, esposa de Júpiter e rainha do Olimpo, é a deusa do casamento e da fertilidade (geralmente favorecidos após uma garrafa, conforme já poetisou Rogério aqui).

100% Sangiovese
Álcool: 13,5%
Maceração por mais de 15 dias, fermentação malolática em barricas e mais 6 meses em garrafa.
Notas:
Cor vermelha rubi.  Nariz de frutas vermelhas maduras, cereja e violeta.  Em boca, equilibrado, taninos macios, muito redondo e corpo médio. Final prolongado de frutas.

Outros vinhos Lamborghini são:

Trescone - um corte de Sangiovese, Ciliegiolo e Merlot, com 4 meses em barris de carvalho.

Torami - corte de Cabernet, Sangiovese e Montepulciano, 10 meses em barricas novas de carvalho francês.

Campoleone - Sangiovese e Merlot (50/50), com envelhecimento de 12 meses em barricas novas de carvalho francês, o mais prestigiado.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Duelo de Chiantis Classicos

E então, no único restaurante aberto no domingo às 20hs em Gaiole in Chianti, Il Galletto Briaco, resolvemos testar os Chiantis disponíveis com os pratos típicos do cardápio.  Afinal, a acidez da Sangiovese pede um bom prato para acompanhar. O primeiro:

Coltibuono Chianti Classico Selezione RS 2009
Um vinho do produtor Badia a Coltibuono, conhecido por seus Chiantis com apenas uvas italianas (Sangiovese e Canaiolo) e por sua produção biológica. Trata-se da propriedade mais histórica e ilustre da região de Chianti Classico e está nas mãos da mesma família desde 1846.  É mais conhecida por seus vinhos reservas, gastronômicos, frutados e com madeira discreta para valorizar a tipicidade da sangiovese. 

Esse rótulo trata-se de uma seleção do produtor, feita a partir de vinhedos de pequenos produtores das melhores micro-zonas de Chianti Classico.


100% Sangiovese, o vinho é frutrado, com notas de especiarias, pronto para beber e com ótima relação custo/benefício.  As uvas são vinificadas separadamente e envelhecidas por alguns meses em barris de carvalho francês e barricas de Allier (França), seguido por um período de amadurecimento em garrafa.

O outro, sugerido pelo proprietário do restaurante, que achava o primeiro um pouco ácido demais, foi o Rietine Chianti Classico 2007.


O vinho é um corte de Sangiovese (80%) e Merlot (20%).  Aromas de frutas vermelhas, ameixa, com notas de especiarias e madeira.  Acidez mais controlada que o anterior (deve ser por causa da Merlot).  A safra de 2008 parece ter sido rebaixada por não atender os critérios de qualidade do produtor, a Fattoria di Rietine, com apenas 7 hectares.


Para acompanhar a refeição, apenas produtos da região:

Azeite e vinagre toscanos
E para sobremesa, cantuccini (biscoitos de amêndoas) com vinho santo, nada mais clássico na região do Chianti.

Cantuccini e vinho santo


















domingo, 20 de novembro de 2011

Na terra dos Chiantis

A Toscana é conhecida por sua paisagem apaixonante, mas como, confesso, no outono o Piemonte me encantou mais, vou me restringir a falar de seus vinhos.

Como na Provence, a história da produção de vinhos na Toscana remonta à época dos romanos.  Se nos anos 70, os vinhos da Itália eram considerados inconsistentes, pouco maduros, acéticos e valorizavam a quantidade ao invés da qualidade, houve um tempo de glória em que os italianos - conhecidos então como romanos - ensinavam franceses, espanhóis e portugueses alguma coisa sobre a arte vinícola.  Na Grécia Antiga, a Itália era conhecida como Enotria Tellus (terra de vinhedos) e isso deve ter servido para alguma coisa...

Sim, nos útimos 40 anos, a Toscana passou por uma revolução e passou a produzir vinhos de qualidade crescente.  Nas palavras de Hugh Johnson, "é o Novo Mundo dentro do Velho".  É bom lembrar que, nessa região da Itália, os vinhos são parte essencial na cultura gastrônomica e os toscanos levam a harmonização muito a sério, não podendo o vinho se sobrepor ao prato.  Até recentemente, uma refeição sem vinho era inconcebível.  Com relação a isso e a título de esclarecimento, vale a pena mencionar o comentário de Nicolas Belfrage em seu livro sobre a Toscana: "café da manhã não é considerado refeição, é um castigo por acordar"!  Segui a recomendação à risca...

Chianti se refere a uma região que vai do sul de Florença ao norte de Siena e de Poggibonsi, no oeste, a Gaiole no leste, onde a viticultura acontece entre 250 e 500 metros de altitude e os vinhedos cobrem 10.000 ha de um total de 70.000.

Em 1967, Chianti foi promulgada uma DOC, sendo que sua zona histórica recebeu um status especial com a adição da palavra "Classico".  Em 1984, se tornou uma das primeiras DOCGs e foi possível adicionar até 10% de outras cepas internacionais em seus vinhos.  Em 1996, Chianti Classico declarou sua independência e criou suas próprias regras: até 100% de Sangiovese ou, no caso de corte com cepas internacionais, até 15%.  Em 2000, esse último percentual aumentou para 20%, o que acontece atualmente.  Em 2005, todas as garrafas de Chianti Classico passaram a receber o famoso galo preto.

Além de Classico, o Chianti pode ser Riserva ou Superiore.  O Riserva significa que o vinho foi envelhecido por mais tempo que o não-Riserva (para o Chianti Classico, 24 meses).  Superiore geralmetne significa uvas mais maduras e maior teor alcóolico.

Além de DOC e DOCG, existe a IGT, que determina a região, e Vino da Tavola, que não determina nada.  Considerando que os italianos elaboram vinho por toda parte do país e que cada prefeito quer que sua cidadela esteja relacionada no "hall of fame" das denominações, a Itália chegou a ter 500 delas, o que não é nada interessante para nós, pobres consumidores.  Para isso foi criado um novo sistema que reduz o número para 200 DOPs (Denominazione di origine protetta) e IGPs (Indicazione di origine protetta), como mencionei neste post aqui.

Com relação aos IGTs, destacam-se os Super-Toscanos.  Um pessoalzinho quis aperfeiçoar seus vinhos e descumpriram as regras de DOC e DOCG, acabaram agradando mais e fazendo mais sucesso que seus conterrâneos seguidores da lei. (Será que foi por isso que a participação permitida das uvas internacionais no corte da Toscana foi aumentando aos poucos??).  A princípio, podem vir de qualquer parte da Toscana, mas, em sua maioria, estão em Chianti Classico, justamente por ser a região mais restritiva.  Seu sucesso se refletiu nos seus preços e, claro, não provei nenhum... :(

Como se percebe, aqui também como na terra dos Barolos, a produção vinícola é dominada pelo debate entre o Novo e o Velho Mundo...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Barolo Moderno

No último post falei sobre o exuberante Rinaldi, um Barolo clássico, tradicional.  Hoje foi a vez do Gaja Dagromis, um Barolo do renomadíssimo produtor Angelo Gaja, mas de sua linha mais comercial - a única que cabe no meu bolso. 


A história de Gaja personifica o eterno duelo tradicionalista x modernistas nos vinhos italianos.  Bastante criticado no início, sua reputação evoluiu bastante com o passar dos anos e sua vinícola atingiu o posto de uma das melhores da Itália. 

Os produtores modernos, diferente dos tradicionais, defendem a utilização de castas internacionais e o uso de pequenas barricas de carvalho. Apesar de ser considerado modernista, Gaja ainda fermenta seus vinhos por ate 30 dias (a pressa moderna permite fermentações de 5 dias) e utiliza barricas novas de forma moderada (apenas 1/3 no primeiro ano de envelhecimento, partindo para os grandes barris de carvalho esloveno no segundo ano). 

Reconhecido por seus Barbarescos, Gaja lançou seu primeiro Barolo Sperss em 1992, apenas após ter comprado sua propriedade de 28 hectares na região em 1988.  Suas outras propriedades incluem: Pieve Santa Restituta em Montalcino (1994), Gromis em La Morra, utilizada principalemente para a produção do Barolo Conteisa Cerequio (1995) e a famosa Ca'Marcanda, em Bolgheri, Toscana (1996). 

Outros produtores modernos no Piemonte são Renato Ratti e Aldo Conterno.  Giuseppe Rinaldi e Bruno Giacosa ainda estão do lado tradicionalista.


Sobre o vinho:


Gaja Barolo Dagromis 2006 – Um vinho extraordinário, redondo, muito macio, equilibrado, encorpado, tânico.  Aromas de frutas vermelhas maduras, especiarias, alcaçuz e notas de madeira.  Envelhecido por 12 meses em barrica e outros 12 em grandes barris de carvalho, tem guarda de até 10 anos e foi merecedor de 92 pontos RP.

Gaja Dagromis Barolo 2006


O vinho combina uvas do vinhedo Gromis com as provenientes de Serralunga. Os dois vinhedos possuem solo de gesso calcário e estão entre 300 e 450 metros acima do nível do mar. O primeiro dá elegância, o segundo, estrutura.


Posso estar completamente enganada e demonstrar meu pouquíssimo conhecimento sobre vinhos, mas, apesar de ter considerado um vinho excelente, tive impressões similares a de estar tomando um excelente Malbec argentino (que adoro), por exemplo.  

Talvez eu não devesse comparar vinhos de níveis de qualidade diferentes (o Brunate-Le Coste é um dos únicos dois Barolos produzidos por Rinaldi e o Dagromis é apenas a linha comercial de Gaja, como mencionei - o primeiro 60 euros e o segundo, 45), não sei, mas, pelo menos em relação a vinhos italianos, estou me descobrindo uma tradicionalista...

domingo, 13 de novembro de 2011

Entre Névoa e Trufas

Novembro é época de trufas brancas no Piemonte e, no grande leilão de 6 de novembro em Alba, a maioria dos participantes é japonesa.  Será que estão pesquisando uma forma de se produzir trufas em laboratório?  Seria uma boa idéia já que uma raspadinha delas pode sair por cerca de 30 euros nos restaurantes locais...

Vitrine de trufas em Alba
Uma trufa branca pela bagatela de 620 euros

Li em algum lugar que as trufas se dão bem com a névoa da Nebbiolo, em especial com o Barbaresco, e mais uma vez decidimos por harmonizar um prato típico com um vinho típico.  Mas estávamos na cidade de Barolo e optamos por este.  Depois de um passeio interessantíssimo pelo novo museu do vinho, já era hora do almoço.

(Um parênteses para falar do museu: moderníssimo, sensorial e surpreendente em relação a qualquer coisa que se pudesse esperar da minúscula e tradicional cidade de Barolo.  Vale a visita!)

Névoa da manhã no Piemonte

Bom, o almoço: restaurante Rosso Barolo em algum lugar no centro da cidade.  Recebidos pela simpática proprietária, o almoço prometia. O meu prato: gnocco de batatas com queijo fonduta e tartufo bianco, o do André: tagliatelle al burro y tartufo bianco d'Alba.  Realmente são extremamente aromáticas, especiais e merecem um prato simples para que seus aromas e sabor possam se destacar, mas não sei se valem o preço.  O André, não sei porque razão, ainda conseguiu uma raspadinha a mais...

Meu prato de gnocco com tartufo bianco



As sobremesas do restaurante também valem a visita:

Torta da Marchese (a Marquesa de Barolo)
Biscoitos de milho para acompanhar o café

O vinho:  Giuseppe Rinaldi Barolo Brunate - Le Coste 2006.  Vale quanto pesa.


Barolo é assim, potente e vigoroso, tornando todas as discussões sobre como deve ser envelhecido (a eterna briga entre tradicionalistas e modernistas) infrutíferas.  De forma geral, o Barolo apresenta aromas de frutas vermelhas, com destaque para framboesa, e flores, evoluindo para tostados e notas de fumo pelo longo período de envelhecimento.  Pode apresentar notas de especiarias adocicadas e macias e, geralmente, um bom Barolo apresenta notas amadeiradas de alcaçuz e tabaco, bem como musgo, cogumelos e trufas.  No palato, é tânico, refletindo seu solo de origem, mais ou menos denso, mas forte e incisivo.

O vinhedo Brunate do tradicional produtor foi plantado em 1980 e tem 1,3 hectares; o Le Coste foi plantado em 1987 e tem 0,4 hectares.  Além desses, Lazzarito e Vigna Rionda estão entre os crus mais renomados da região.  Para os Barbarescos, considere Rabajà, Ovello e Santo Stefano.

De volta ao produtor, as uvas são colhidas manualmente em outubro, com rendimento de 65 quintals/hectare.  A fermentação acontece em tanques de carvalho e o envelhecimento em barricas de carvalho esloveno por entre 30 e 36 meses, mais garrafa por 6 meses.

Notas de Degustação:
Cor vermelha rubi com reflexos granada.  Aromas de frutas vermelhas, especiarias e madeira (tabaco).  No palato é frutado com taninos vivos e final persistente de frutas e trufas.  Ainda muito jovem, mas excelente.  Esse vinho pode resisitir a até 20 anos de guarda.  Se estava tão bom agora, mal posso imaginar como estará no seu auge.


Fato é que não tenho como bancar um Barolo no seu auge.  Nas enotecas da cidade, um bom Barolo não sai por menos de 60 euros e não estou disposta a pagar 30 por um vinho "que ainda melhorará".  No Brasil, ainda conseguimos pagar isso por vinhos muito, muito bons.  Portanto, ficarei bem satisfeita em continuar a vida sem grandes Barolos (no auge), me contentanto com bons Barolos jovens (como o de hoje) e, principalmente, bons Barbarescos!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

De Cara com a Fera

Decolar dos tintos do Luberon e rosés da Riviera e aterrissar em uma taça de Nebbiolo não é tarefa das mais simples.  O primeiro gole parece mais áspero e o vinho, ainda mais duro.  Mas, com o segundo gole, fui ficando mais à vontade e confortável diante da grandeza dos vinhos do Piemonte.  O resultado: três garrafas de Barolo, uma de Barbaresco e várias taças de Barbera e Dolcetto.

Cabe lembrar que a uva por excelência da região é a Nebbiolo, utilizada para a elaboração dos Barolos e Barbarescos.  A Barbera vem atrás, em segundo lugar, e a Dolcetto chega depois.  A Nebbiolo é uma uva difícil para cultivar e para fazer vinho.  Tem ciclo vegetativo muito longo, floresce cedo e amadurece tarde, sendo sensível a variações climáticas.  Além disso, a obtenção de cor é muito difícil em razão do excesso de taninos e pobreza em antocianinos, assim como a extração dos componentes fenólicos de forma equilibrada para garantir a estabilidade do vinho.  Se cuidada da forma adequada pode produzir grandes vinhos, com incrível harmonia de sensações.

Existem inúmeras hipóteses sobre a origem do nome Nebbiolo.  A versão mais popular entende seu nome mesmo vindo da névoa (“nebbia” em italiano) que seria parte fundamental dessas uvas pelo véu que se forma em suas cascas.

Hospedamos-nos na vinícola Cascina Baràc, em Alba.  Uma pequena propriedade com 15 hectares, dos quais a produção é compartilhada com outra vinícola da mesma família, a Cantina Piazzo, maior e mais conhecida.  A Cascina Baràc produz apenas 15000 garrafas, não exporta (por alguma razão burocrática sobre licença emitida pelo Ministério do Comércio italiano, conforme pude entender com meu italiano ”novela das 8“), mas tem seu hotel relacionado nos roteiros de charme da Itália.

Vista de um dos quartos do Cascina Barác, com a cidade de Treiso ao fundo
Para uma introdução ao fantástico mundo dos vinhos piemonteses, fizemos uma degustação inicial na própria Cascina.  Do Piemonte, faltou apenas um Dolcetto, o qual consegui provar depois em outras ocasiões.  

Degustação Cascina Barác

Chardonnay 2010 – Jovem, leve, fresco e frutado.  É interessante ver as diversas facetas do Chardonnay pelo mundo.  Aroma de abacaxi e flores (juro que encontrei alguma coisa de guaraná, mas vou deixar esse comentário entre parênteses para não afetar minha credibilidade).


Barbera d’Alba 2009 – Jovem, despretensioso, um vinho bem interessante para o dia a dia.  Teor alcóolico de 13,5°, passa de 6 a 8 meses em carvalho. Nariz de morango e cerejas, frutado em boca e final também frutado.

Langhe Nebbiolo  2009 – Mais encorpado que o anterior, tem 14° de álcool e permanece 8 meses em carvalho.  Aroma de compota de cereja e boca frutada com notas de chocolate.  Harmonizou bem com o salame local e é uma ótima opção para substituir o caro e difícil Barolo.


Barbaresco 2007 – Menos potente que seu “conterrâneo” Barolo, é mais elegante e bem mais fácil de beber, especialmente no que diz respeito a preços.  Aromas frutados e vegetais.  Encorpado, redondo e final persistente.


Barolo 2007 – Poderoso, encorpado.  Notas de madeira e chocolate.  Minhas anotações se perderam nessa última taça, não me lembro do resto...  Menos ainda do Moscato servido ao final.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Harmonização à la Provence

Uma dica séria e eficaz para harmonização se refere à combinação do prato típico com o vinho típico da região.  Nunca me desapontou.

Segunda-feira chuvosa em Cannes, restaurante Le Caveau 30, o que esperar?  Se na Provence, como os provençais: o vinho seria um rosé, o prato uma bouillabaisse.

Para começar, acho que nunca pediria uma sopa de peixe em um restaurante com inúmeras opções de ostras, lagostas e outros frutos do mar, mas essa foi minha escolha em nome da pesquisa empírica sobre a melhor combinação "mets et vins".  Acabou se tornando simplesmente uma das melhores harmonizações em minha curta vida enogastronômica. 

O prato:

Bouillabaisse do restaurante Le Caveau 30

Quem conhece, sabe que se trata de um prato típico provençal feito de peixe e mariscos, bastante condimentado, servido com torradas e, no meu caso, com uma pasta de mostarda que foi a cereja do bolo na combinação toda.

O vinho:
Domaine Bunan Rosé 2010, Moulin des Costes, AOC Bandol.


Seco, aromas de cereja e groselha, boa estrutura, em minha opinião, merecedor da medalha recebida em Paris em 2011.

A produção de rosés na Provence representa mais de 80% da produção de vinhos na região, portanto, acredito que eles saibam o que estão fazendo e o fazem muito bem (até mesmo porque a elaboração de um bom rosé não é das mais simples e, não à tôa, foi o vinho dos nobres e aristocratas até o século XIX).

Os rosés da Provence têm bom corpo e uma untuosidade que o tornam um acompanhamento perfeito para as refeições, o que pude comprovar naquela despretensiosa noite chuvosa na Riviera, dois dias após o encontro do G-20.  Será que as escolhas deles foram tão acertadas quanto a minha?  Algo me diz que não...

Thoughts (and drinks) from Provence, by André Favero (versão enófila do texto “Ponders from Sahara”, de 2004, do mesmo autor)

No colors but fall vineyards
No scenery but a painting worthwhile
No memories but the last glass
No plans but never leaving the place

In the cellars of anonymous winemakers
The “easy” is so hard to get
That “simple” is pursued throughout generations

The flavor seduces
The soul raises
The tannin remarks
The taste remains

And the outsider only drinks
Instead of drinking and comprehending
As he sinks himself into the shallowness of the last drop
Pretending that he understands what is left when a bottle ends.


Copyright © 2011 by André Favero. Todos os direitos reservados (andre.favero@gmail.com)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A piece of information

Nesse post de outubro sobre a Provence, falei do Domaine de Trévallon e seu vinho premiado.  Pois consegui visitá-los e fazer uma degustação vertical muito interessante! Ah, eles também produzem um branco, mas não estava disponível para degustação...

Como já falei do vinho, este post é apenas para falar do rótulo mais recente, o da safra 2009, que já traz a nova legislação sobre denominações de origem na Provence.  Trata-se de um novo sistema para reduzir o número de indicações geográficas dos vinhos europeus, ou seja, uma lei que busca facilitar nossa vida como consumidores.  Confesso que, durante os 12 dias de viagem até agora, foi o primeiro no qual vi a mudança.


Pelo rótulo acima, pode-se perceber que a denominação "Vin de Pays des Bouches du Rhône" já não mais existe, tendo dado lugar à "Indication Géographique Protegée - Alpilles".  Para a filha do proprietário que nos recebeu, faz mais sentido já que os Alpilles estão mesmo bem ao lado da propriedade... Para mim, parece que dentro dessas IGPs teremos várias indicações que continuarão não nos dizendo muita coisa...  Pelo menos o vinho continua o mesmo!!

Domaine Faverot

Na parte provençal de nossa viagem, decidimos nos hospedar em uma vinícola, em um esquema mais residencial que hoteleiro.  O escolhido foi o Domaine Faverot, uma propriedade familiar no centro da AOC Côtes du Luberon, que disponibiliza apartamentos totalmente equipados para que vc possa experimentar sua vida na Provence! E ainda rodeado por vinhedos!


O Domaine, com seus 7 hectares, produz cerca de 3000 garrafas anualmente, entre tintos, brancos e rosés, de forma orgânica.  Trata-se de um pequeno produtor, um "vigneron indépendant", que nos surpreendeu com seus vinhos muito bem feitos.

Na degustação, experimentamos toda a linha de produção.  Começamos pelo branco, 2010, um corte de Grenache Gris (40%), Rolle (30%) e Roussane (30%).  Nossa primeira vez com essas castas: diferente e inesquecível!  Envelhecido por 6 meses, parte em aço inox, parte em barrica. É um vinho jovem, frutado, floral, com notas minerais. Redondo no palato, com final frutado e um pouco untuoso.  Um frutado mais sério, diferente dos brancos da América Latina e um mineral mais divertido, diferente dos Chablis da semana passada.


O rosé, também 2010, é 50% Syrah, 30% Carignan e 20% Grenache.  Nariz de frutas vermelhas e especiarias.  Final persistente e apimentado.  Bom corpo, bom para acompanhar pratos leves.  Típico provençal, compramos uma garrafa.

O primeiro tinto foi o Le Mazet 2008. Carignan (50%), Syrah (30%) e Grenache (20%), envelhecido por 12 meses em aço inox e barricas.  Notas de frutas vermelhas, cereja e framboesa.  Final prolongado de especiarias.  Um pouco alcóolico demais, mas saboroso.


O proprietário, François Faverot, e André Favero

O top da vinícola, o La Cuvée du Général, leva Syrah e Grenache (50/50) e é envelhecido em barricas e tanques de carvalho por um ano.  Provamos o 2005: aromas de frutas vermelhas maduras, compotas, com notas de couro e almíscar.  Taninos redondos e bem equilibrado.  Depois compramos uma garrafa da safra de 1999, que agora está em seu auge, e tivemos uma surpresa ainda mais agradável.  Cor vermelha âmbar, taninos macios e aromas animais mais acentuados.  Excelente!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Lições da Borgonha: Time is Wine. And Wine is Life, por André Favero

Dia 31.10.2011, 10hs. Café da manhã em Beaune, coração da Borgonha. Vinho local para o desjejum. Nem arrisco as tentações do cardápio...trufas, escargot e até a tal androuillete (não recomendo). O mundo do vinho, ainda mais no velho mundo, tem seu charme, e tudo parece dar certo nesse negócio. Mas claro que não é sempre assim.

Depois de passar 2 dias em Chablis, capital do Chardonnay na Borgonha, e 3 dias em Beaune, capital do Pinot Noir, fica claro que a expressão “joie de vivre” - assim como o “dolce far niente” dos italianos – é praticada como uma religião por todos os habitantes da região. Mas não somente por mero hedonismo ou charme. Faz parte da cultura de uma vida sofrida também. Viver do vinho não é vida fácil.

Não por acaso, a cultura de produzir vinho geralmente envolve diversas gerações da mesma família, que demoram décadas para conseguir se estabelecer nesse negócio que exige dedicação extrema e aprimoramento a cada garrafa produzida, para chegar a um produto que o consumidor entenda como aceitável – e com um preço razoável.

E pra aumentar o drama – e consequentemente o charme - da história da Borgonha, a região foi alvo de pequenos “contratempos” ao longo da história. Desde os huguenotes da reforma protestante (calvinistas na maioria), os conflitos da Revolução Francesa, a invasão dos Prussianos, a Segunda Guerra Mundial, culminando com ataques impiedosos da Phyloxera (praga que ataca os vinhedos), a produção de vinhos da região sempre se reergueu e se reestruturou. E olha que os primeiros registros de exportação do vinho da região para a Inglaterra e Bélgica remontam a 1450.

De volta a 2011, no sábado dia 29.10.2011, às 18hs, a Madame Marchive nos recebia na sua vinícola em Chablis para mostrar os vinhos brancos que produz e vende pro mundo inteiro (90% da produção é exportada). Mesmo que tentemos visitar os segredos de outras vinícolas ao longo da viagem, acredito que esta foi a grande oportunidade de ouvir da fonte primária toda a paixão e labuta que envolve o mundo do vinho na França. Noutras visitas, meros turistas outra vez, e recebidos pelos funcionários dos passeios padrão.

Conhecer de perto esse espírito e os segredos de alcova dos produtores nem sempre é possível. Os produtores franceses guardam a sete chaves os enigmas das suas caves, e geralmente não dão acesso a turistas. A visita completa fica reservada para importadores e grupos de investidores. Mas na tarde nublada do dia 29 fomos contemplados pela sorte. E com a dedicação contagiante da Madame Marchive (veja o post anterior), proprietária do Domaine Les Malandes. Suas mãos grossas e calejadas diziam o quanto a própria dona se dedica pessoalmente, e fisicamente, ao negócio.

A cada explicação da posição do sol e da localização dos première crus (lado esquerdo e direito da margem do rio Yonne) e dos grand crus (somente lado direito da margem), largos goles da perfeição em forma de Chardonnay. O melhor do mundo, como o próprio mundo considera. E ela segue com os detalhes sobre as duas outras classificações do vinho local, inferiores ao grand cru e ao première cru: o chablis, plantado a noroeste, o petit-chablis, plantado a sudeste. Isso determina a inclinação do terreno, a quantidade de minerais do solo, o ângulo do sol, o grão de uva que será resultante desses fatores todos e finalmente, o vinho que será elaborado a partir dessa combinação. Ah, sim, se o clima colaborar, não chover muito, etc. A visita culminou com a abertura, inusitada, inesperada, dos porões da cave (sim, isso existe!), que levaram ao subsolo, onde está todo o processo. A partir daqui, deixo por conta da imaginação - ou curiosidade - de cada um. Mas vi detalhes que não havia visto nas inúmeras outras visitas em outros lugares/países.

Desses passeios enófilos todos fica cada vez mais forte a mesma história: o vigneron pensa e vive o vinho, ao longo de toda a vida. Desde a influência do pai ou do avô na infância, durante os estudos e dedicação na vida adulta, e na busca por novos e apaixonados gestores que o substituirão na velhice. E nem sempre são os filhos, para a tristeza dos pais e avôs. Acordam torcendo para não chover em demasia; dormem pensando na próxima vindima, pois uma safra ruim significa descontinuidade de todo um trabalho de décadas. Como em qualquer outro lugar vitivinífero, mas no Velho Mundo parece diferente, não sei dizer a razão. Não escondem que o vinho é a medida de tempo que determina o ontem, o hoje, o amanhã da sua laboriosa vida. Vida que depende muito do vinho. E a nossa vida, a cada aroma, sabor e história descoberta, depende da vida e do tempo deles.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gevrey-Chambertin 2006

Fim de tarde frio e chuvoso, resolvemos comprar um vinho tinto (para sair um pouco da invasão dos brancos) em uma das inúmeras lojas de Beaune.  O André ainda não tinha provado nenhum tinto que o impressionasse, então minha missão era séria.  Na primeira loja, ao lado da boulangerie onde tínhamos acabado de comprar uma baguette para acompanhar, eis que encontro algo precioso: um Romanée St. Vivant 2005, do Domaine de la Romanée-Conti.  Será que nem esse agradaria?  Pela bagatela de 1800 euros, resolvi não pagar para ver!

Na loja ao lado, me deparei com o escolhido: um Gevrey-Chambertin Premier Cru 2006, Chateau de Marsannay, pela bagatela de 33 euros.  Entre os tintos da Borgonha, este está entre meus preferidos (Napoleão também compartilha da minha opinião!).


Aromas de frutas vermelhas maduras, alcaçuz e notas de madeira.  Final longo de especiarias.  Taninos equilibrados, encorpado.  Apesar de estar pronto para beber, o vinho ainda pode melhorar com mais um tempo de guarda. Ah, o André gostou bastante!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Château de Chassagne-Montrachet

O Château é propriedade de Michel Picard, um dos grandes (em termos de tamanho mesmo) produtores da Borgonha, com vinhedos próprios em diversas vilas e também como comprador de terceiros.  A visita vale pelas caves: os brancos envelhecem em uma cave do século XI e os tintos em uma mais moderna, do século XIV!

A vinícola ainda oferece um almoço harmonizado para degustação de 6 de seus vinhos, do qual participamos felizes:

Como aperitivo, foi servido um Mercurey 1er Cru "Clos Paradis" 2008: frutado, fresco, leve, com notas amanteigadas, simples e surpreendente (16 euros)

Para acompanhar os embutidos regionais de entrada:
Chassagne-Montrachet "En Pimont" 2007 - aromas de flores e mel, notas minerais, bom corpo (25 euros)
Chassagne-Montrachet 1er Cru "Les Chenevottes" 2006 - aromas de compota de goiaba, mel, notas minerais, untuoso.  Final longo e persistente. (35 euros)

Para o prato principal, "jambon au Madére et riz Thai":
Nuits-Saint-Georges 2006 - aromas de caça, couro, encorpado. Harmonizou ainda melhor que o próximo. (25 euros)
Volnay 1er Cru "Les Santenots" 2006 - aromas de frutas vermelhas e especiarias, um tanto mais feminino que o anterior. (30 euros)

Para acompanhar a tábua de queijos:
Chassagne-Montrachet 1er Cru "Les Macherelles" 2006 - aromas de frutas vermelhas, chocolate, taninos macios, redondo e bom corpo.

Prato com os queijos: époisses de Bourgogne, comté e citeaux
Para finalizar, antes do café, foi servido sorbet de framboesa e calda de cassis.  Saímos do castelo satisfeitos, encantados e com uma garrafa do Chassagne-Montrachet 1er Cru.

Sorbet de sobremesa

Le Cheval Blanc

Não, não se trata do vinho, mas de um restaurante em Vezélay, no caminho entre Chablis e Beaune.  Vezélay vale a visita pela basílica de Sainte Madeleine, patrimônio da humanidade pela Unesco, rodeada por vinhedos e restaurantes charmosos. 

Tentamos almoçar no L'Ésperance do chef Marc Meneau, mas, biensûr, não tinha vaga.  Depois da visita à igreja e arredores, a fome bateu e já passava das 14 horas.  Para vocês que não sabem, na França (ou na União Soviética como diria minha amiga, né Dani?), os restaurantes não servem almoço depois de 2 da tarde.  Na descida da igreja, fez-se a luz: o restaurante Le Cheval Blanc (não, não escolhi de propósito, foi o único a nos aceitar para uma refeição).

Restaurante Le Cheval Blanc, em Vezélay

Como o vinho, o restaurante não poderia nos deixar na mão. O menu, por 28 euros, surpreendeu em todos os passos e, para acompanhar, escolhemos um vinho do vilarejo: Bourgogne Vezélay, de Henry de Vezélay, um produtor a alguns metros de distância.



Lombo ao molho de geléia de gengibre
O meu prato estava divino e, segundo o André, a anos-luz à frente da escolha dele, um corte de cordeiro.  E, para a sobremesa, um mix de frutas, creme e caramelo, perfeito!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Domaine des Malandes

Por sugestão de Clive Coates em seu livro "Wines from Burgundy", marquei uma visita ao Domaine des Malandes, mas chegando lá nos deparamos com os portões fechados! Também pudera: era sábado, final do dia.  Qual foi nossa surpresa ao percebermos que a senhora que nos atendeu ao telefone e se prontificou a sair de casa e nos receber era ninguém menos que a Senhora Lyne Marchive, a proprietária, que nos guiou por toda a degustação com toda a desenvoltura de uma produtora e a paciência de uma professora, fazendo valer cada minuto da visita.

Sobre o Domaine, trata-se de um pequeno produtor que une a tradição familiar (família Tremblays de Chablis) com a tecnologia moderna a fim de alcançar a melhor qualidade, prezando pela tipicidade do terroir.  No comando da vinícola desde 1972, a Senhora Marchive, de seus cerca de 27 hectares, tem produzido pouco mais de 200 mil garrafas, das quais a maior parte é da denominação Chablis.  Seus vinhos têm sido muito bem avaliados e muito se fala da qualidade dos vinhedos, que somado ao toque feminino na produção, tem resultado em vinhos finos e elegantes.  Viva a França e suas vigneronnes renomadas!

Madame Marchive e seus tonéis coloridos


À degustação:

Provamos um Chablis 2010, um Premier Cru Côte de Léchet 2010, outro Premier Cru Vau de Vey 2009, um Grand Cru Vaudésir 2009 e outro Grand Cru Les Clos 2010.  Todos muito bem feitos, equilibrados e com a tipicidade dos vinhos de Chablis.  Talvez pela idade (sim, esses brancos têm guarda de até 10 anos), os que mais me agradaram foram o Vau de Vey e o Vaudésir.

O primeiro tem aromas florais, boa acidez e muita mineralidade, com bom corpo. Pelo último, tenho uma queda especial, como demonstrei no último post. O des Malandes é floral, mineral, untuoso, exuberante.  O Les Clos também me agrada muitíssimo, mas se parece mais aos brancos da Côte d'Or, mais poderosos.  O Chablis também foi uma boa supresa, um vinho leve, fresco, perfeito para acompanhar peixes e frutos do mar crus, não à tôa, um dos mais exportados para o Japão.

O Petit Chablis não estava disponível para degustação, mas a safra 2009 já levou uma medalha de ouro em Paris.


O melhor?  O custo-benefício.  Como já deveria saber e pude comprovar, os vinhos da Borgonha são caros mesmo, mesmo aqui.  Os vinhos do Domaine des Malandes têm preços mais acessíveis e, claro, compramos algumas garrafas! O Côte de Léchet por 12,50 euros, o Vaudésir por 25 e o Les Clos por 27 euros.

Apesar de exportarem 92% da produção, suas exportações para o Brasil são quase inexistentes.  Quase porque recentemente foi fechado um contrato com uma nova importadora de São Paulo que ainda nem está em pleno funcionamento.  Ou seja, em Brasília, não devem passar nem perto...

Ao final, ainda degustamos um Beaujolais 2010 Moulin à Vent da produção de seu filho, Domaine Richard Rottiers, também muito agradável, fresco e jovem, com bom corpo.