terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Vinhos para o Verão, ou melhor, para o Entardecer no Pontão

Por Mariana Carvalho

Receber o convite para participar de uma degustação de vinhos foi ao mesmo tempo excitante e constrangedor. O constrangimento antecipado partiu do fato de que eu não entendo nada, absolutamente nada, de vinhos. Para mim só há as seguintes categorias: bons ou ruins para o meu paladar. Enfim, currículo péssimo para participar de uma degustação oficial da Associação Brasileira de Sommeliers. Como sou uma pessoa sem noção e deliberadamente me coloco em situações vexatórias, aceitei o convite.

“Degustação de vinhos para o verão: são sete vinhos bem interessantes, muito apropriados para o clima quente e ensolarado desta época do ano”.  Para a chuvosa Brasília de início de ano, o convite parecia uma gozação. Até chegar ao pequeno auditório onde foi realizado o evento, não havia parado para pensar no que seria essa categoria singela: vinhos para o verão. Umas 30 pessoas estavam presentes e fiquei surpresa: ninguém tinha cara de sabe-tudo-de-vinho e todos pareciam bem humorados, se divertindo mesmo. Senti-me confortável naquele ambiente e relaxei total quando o “professor” começou a apresentação: Matoso é uma pessoa agradável e soube conduzir de forma bem leve a degustação.

Num primeiro momento, Matoso falou um pouco sobre o que seriam os tais vinhos para o verão. São vinhos brancos (e alguns rosés) frescos, jovens (quanto mais novo melhor, diferente dos tintos), próprios para o clima quente, quem sabe para tomar “no entardecer no Pontão”. Dentro daquela pequena sala onde estávamos, comecei a sonhar com praias caribenhas e vinhos harmonizados com “ostras mornas com juliennes de legumes e laranja e sua redução cremosa com um toque de manteiga trufada”, o que nada tinha a ver com o pãozinho italiano que nos acompanhava durante a degustação.

Após sermos apresentados às castas que iríamos degustar naquela noite – aprendi nomes muito chiques de uvas – finalmente fomos aos vinhos. Verdichhio dei Castelli di Jesi Classico (Itália, 2010) foi o primeiro vinho apreciado.  Achei-o salgado (lembrou shoyo!), com gosto forte de limão. Não era de todo ruim, mas eu não gastaria quase 60 reais com ele.

O segundo vinho da noite foi o Abad Dom Bueno Godello Joven (Espanha, 2010). Engraçado que a primeira sensação foi um cheiro amadeirado, perfumado, que não se repetiu após experimentá-lo. Também o achei mineral e ácido (a expressão “uma acidez que lhe dá alegria” utilizada pelo Matoso pareceu estranha, mas fez sentido). O Colomé Torrontés (Argentina, 2010) foi decepcionante, enjoativo demais, bem frutado e com leve sabor de rosas.

O Riesling (PE Dopff & Fils) (França, 2010) tinha cheiro de roupa molhada, mas o gosto era agradável, apesar de bem seco. Era o vinho mais caro da noite – cerca de 70 reais – e não acho que fez jus ao título. Chegamos ao Animal Chardonnay (Tikal - Ernesto Catena) (Argentina, 2010) disparado o melhor vinho da noite. Constatei, ao final da degustação, que muitos dos meus colegas também assim acharam, o que me fez perceber que por mais que não conheçamos tecnicamente como avaliar um bom vinho, o nosso paladar é infalível. O primeiro gosto que senti ao experimentá-lo foi de cravo. Achei-o amanteigado e também “macio”.

Chegamos, então, aos dois últimos vinhos da noite, ambos rosés. Primeiro o espanhol Gran Feudo Rosado (2010), de garnacha, com aroma inicial de baunilha, gosto de jelly beans e cor de calda de cereja, ou seja, não era um vinho, mas quase uma bebida de parque de diversões. O último vinho foi o único nacional da noite, o Fausto Pizzato Merlot (2011), de cor rosada bonita e sabor frutado, que não era ruim (e bem baratinho, cerca de 25 reais), mas para fechar a noite preferia ter tomado mais uma tacinha do Animal Chardonnay.

Enfim, uma noite de aprendizado, aromas e sabores (em que pese eu não ter sentido nem 1/10 dos “aromas das varietais brancas” propostos – e ainda ter sentido coisas que com certeza não estavam nessa listagem!). Aprendizado maior, talvez, tenha sido quebrar o preconceito contra vinhos brancos. Para quem mora num país quente como o nosso, essa postura não faz sentido nenhum.

Agora estou pronta para a próxima degustação, e mais pronta ainda para ser convidada para tomar taças e taças de vinho. Como disse Matoso, “vinho só se conhece mesmo, bebendo (degustando), portanto, quanto mais, melhor”.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Valduga para a Pizza de Domingo



Na verdade, a minha foi sábado, um aniversário com rodízio de pizzas.  Pizzaria, especialmente com rodízio, geralmente não prima por sua carta de vinhos. O desafio é encontrar algo que valha a pena.  Entre chilenos reservados e argentinos encorpados, nem sempre é fácil encontrar algo bom que combine com a descontração da ocasião.


 
Pizza à Bessa, em Goiânia, me deparei com um Valduga Duetto Pinot Noir/Shiraz 2011.  Não poderia ser melhor: adequado para a pizza, simples para agradar todo mundo.  O vinho caiu muito bem, leve, com boa acidez, muito equilibrado.   Tímido, não se destaca por seus aromas ou complexidade.  Despretensioso como um rodízio de pizzas.  E, antes que pudéssemos nos dar conta, já era hora de pedir a segunda garrafa!