terça-feira, 22 de setembro de 2015

Vinho Ruim

É difícil. Na verdade, classificar um vinho tanto como ruim quanto como bom é muito subjetivo. Existe algo mais pessoal que o paladar? Gosto são lembranças, afeto, histórias, preferências...

Quando alguém decide falar de vinhos, toma para si uma grande responsabilidade: pode alavancar um produtor ou simplesmente derrubá-lo. Deve haver critérios. E há ou todo papo de vinho seria um monte de balela!

Critérios existem para dizer se o vinho é bem feito, se está equilibrado, desequilibrado ou se está defeituoso. Apenas isso. Desequilíbrio e defeitos podem ser ruim para mim e não pra você. Confesso que já tomei um vinho oxidado que me agradou bastante.

Cabe ainda lembrar que os defeitos podem estar (geralmente estão) relacionados a uma garrafa específica ou, no máximo, a uma safra. Nos dias atuais, é muito difícil um vinho mal feito.

Além disso, mau armazenamento, temperatura errada, harmonização infeliz, paladar alterado, tudo isso pode deixar o vinho de uma garrafa ruim, para alguém. Tachar um rótulo como ruim é, portanto, na maioria das vezes, uma classificação baseada simplesmente no gosto pessoal.

Gosto pessoal também conta para vinho bom. Sabe-se, por exemplo, o estilo dos vinhos que ganham notas altas de Robert Parker. Acontece que falar de vinho ruim traz conseqüências mais nefastas. Todo mundo vai provar o vinho bom e fazer seu julgamento. Mas pense naquele vinho um tanto desequilibrado porque foi feito sem muita tecnologia lá no interior de algum país produtor por uma família que elabora vinhos há séculos.  Desequilibrado, mas cheio de história. A história pode ter gosto de lembranças afetivas para alguém que deixaria de prová-lo se ouvisse que é ruim.

Portanto, menos notas, menos avaliações, mais experiência gustativa, mais litragem.

Dito isso, posso finalmente dizer que experimentei um vinho que não gostei nada:  Serras de Azeitão Selecção do Enólogo Rosé 2013.  Sem expressão, fechado, sem gosto.

Talvez tenha sido mau armazenado. Talvez minha expectativa estivesse muito alta porque amo rosé. Talvez o problema tenha sido eu. Alguns disseram que ele "não era tão ruim assim". Ficou mais da metade da garrafa. Ninguém repetiu.  Tire a prova.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

600 Dias sem Ele - Desafios de uma Enófila Gestante

Para ser exata, até o momento, 593 dias sem vinho.  Algo em torno disso e em evolução, mas eu não estou contando.  Quem estaria?

Tudo começou com vinho.  Não, não do jeito que você está pensando!  Começou com a cor de vinho, um clarete para ser mais exato:  positivo no teste de gravidez.  Notícia feliz, mais do que esperada.  E, com ela, veio o primeiro desafio, bem antes do que eu poderia ter imaginado.  Como se comemora uma notícia desta sem espumante?  Uma comemoração sem graça, nem um pouco à altura do que a ocasião pede.

O melhor é abraçar a causa, ver a taça o copo meio cheio e pensar nos benefícios de ser uma enófila gestante.   

1.   Beber vinho como uma verdadeira degustadora e cuspir no baldinho.  Após 9 meses de degustações sóbrias, quem sabe não me tornaria uma Jancis Robinson?
      Beleza!  Funciona até uma pessoa infeliz e desagradável resolver te dizer que o álcool é absorvido pela saliva e cortar seu barato.

2.   Aproveitar a sensibilidade apurada e encontrar aromas jamais percebidos.  Especializar-se em cheirar vinho e depois segurar seu nariz por US$ 1 milhão como Robert Parker.
      Só que não.  Entre todos os sintomas que não tive, o olfato apurado foi um deles.

3.   Ler todas as revistas de vinho atrasadas, livros de enofilia parados na estante e aproveitar a fase para se educar.
     Não de novo.  Entre o trabalho, a organização do enxoval, as consultas médicas, os exames, a decoração do quartinho e as inúmeras leituras sobre o que vem pela frente, não sobra muito tempo para leituras de Baco.

4.  Aproveitar que você decidiu ter um parto humanizado e aguardar ansiosa pelo momento de poder abrir um champanhe e brindar o nascimento do rebento!
     Yes! Finalmente, algo que eu poderia fazer.  Nem sei dizer o que veio primeiro.  Se decidi pelo parto humanizado e fiquei feliz de poder brindar depois ou se, na verdade, decidi brindar e então escolhi o parto humanizado.  Enfim, guardei a bebida e esperei ansiosa, já me imaginando lá, dentro da piscina, com um bebê no colo e uma taça de Taittinger na mão. Teria sido perfeito se alguém tivesse se lembrado da garrafa na adega...  

Finalmente, quando você acha que a abstinência acabou, você se lembra que após a gravidez vem a amamentação.  E a amamentação não tem prazo definido.  E dá muita sede.  Tinha sede de champanhe gelado no meio da tarde.  Algumas vezes no café da manhã.  Talvez um recalque por não ter bebido no dia do parto.

Bom mesmo deve ser ficar grávida na Europa, onde os médicos permitem uma taça de vinho ao dia.  Quem tem coragem de desobedecer recomendação médica na gravidez?  Por aqui, alguns liberam em uma ocasião especial.  Se ocasião especial é o lançamento da nova temporada de House of Cards ou a escalada do Jornal Nacional, cabe a cada um decidir.  De qualquer forma, até hoje não se definiu se existem níveis seguros para a ingestão de álcool na gravidez ou na amamentação.  Fato é que ninguém vai se submeter a pesquisas para saber o efeito de uma taça de vinho no feto ou no lactente.  

Entre as consequências do álcool na gravidez, estão problemas sérios de desenvolvimento.  Na amamentação, o álcool pode afetar a fome e o sono do bebê, mas os riscos são bem menores, especialmente se você esperar algumas horas depois de sua ingestão para amamentar.  Alice está com 10 meses agora e muito bem desenvolvida.  Me arrisco uma tacinha depois que ela vai dormir, não em ocasiões especiais, nem todo dia, mas pelo menos uma vez por semana. O pediatra disse que pode.  E assim vou vivendo, um dia de cada vez, sem Alice dar um sinalzinho de que pensa em parar de mamar.