segunda-feira, 3 de junho de 2013

Degustação Vertical do Lote 43

Fui a mais uma degustação vertical do Lote 43.  Dessa vez, para o lançamento da safra 2011.  Em 2011, o mesmo evento (promovido pela ABS-Brasília e Miolo) lançou a safra 2008 e me lembro bem que, naquela ocasião, o 1999 estava já um pouco decadente e o 2005 superou todas as outras.

Esse ano tive algumas impressões diferentes.  A degustação, para surto de alguns, começou pelo vinho mais antigo. O motivo alegado foi a didática, para se mostrar a evolução...

Para não dizer que não falei das flores, caso você não saiba, o Lote 43 se refere ao lote de 24 hectares que foi comprado por Giuseppe Miolo, patriarca da família, na Linha Leopoldina.  No lote, 19 hectares estão plantados com vinhedos.  O Lote 43 foi criado à imagem e semelhança dos Crus bordaleses para ser um vinho ícone e singular (único vinhedo).  Um corte de Merlot e Cabernet, agora mais Merlot que Cabernet (regras da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos). Praticamente um Pétrus!

Só é produzido em safras excepcionais (mais secas) e, graças ao aquecimento global (que me perdoem os ambientalistas), ultimamente tem havido muitas safras excepcionais.

As videiras são plantadas nas encostas voltadas para o norte, é feita poda seca curta, rendimento de 1 a 1,5kg por planta, colheita manual, utilização de leveduras indígenas, fermentação malolática espontânea com as cascas, não há utlização de bombas, apenas gravidade e prensa hidráulica, sem filtragem, 12 meses em carvalho novo francês e americano, mais do primeiro, mas sem regra definida e, por fim, 12 meses em garrafa, no mínimo.

Vamos ao que interessa:

Lote 43 1999
Foram produzidas 80 mil garrafas, ainda de vinhedos em latada e sem a vinificação moderna descrita acima. 12,5% de álcool.  Foi servido sem prévia decantação (isso que dá não ser da imprensa especializada!) e estava cheio de cristais. Aromas herbáceos e de terra, disseram cogumelos.  Mas ainda com frescor e taninos suaves.  Melhor do que quando provei em 2011, provavelmente em razão do armazenamento, não sei.  Boa surpresa.

Lote 43 2002
Alguns encontraram aromas animais, de couro.  Encontrei esmalte, almíscar, frutas vermelhas estragadas e azedas.  É, o vinho parecia azedo... Não achei tão bom de beber.  A Super Adega parece ter algumas garrafas ainda.  Eu não vou comprar não. 

Lote 43 2004
Fruta madura exuberante, cor viva, especiarias doces e um leve caramelo que deixava o final macio e cremoso, como um bom chocolate ao leite.  Com um frescor que lembrava um Barbera e taninos bem macios e suculentos. 13,5% de álcool.

Lote 43 2005
Aromas mais complexos, mas mais discretos que o 2004.  Notas de madeira.  Encontraram trufas brancas e geléia de figo.  Sério?  Em boca, aí sim, muito melhor, mais volume, mais estrutura, mais corpo, simplesmente mais. Continua sendo o melhor. 14% de álcool.

Lote 43 2008
Também com 14% de álcool, ainda precisa de uns 5 anos para seu auge.  Não senti mentol e eucalipto, mas geléia de frutas e anis. Com bom frescor e taninos vivos, que ainda vão deixar o vinho mais equilibrado.

Lote 43 2011
14% de álcool virou regra.  Trouxe cassis, café, madeira ainda pouco integrada.  Safra já com anova versão mais Merlot para atender as regras da D.O. Vale dos Vinhedos.  Mais equilbrado que o 2008 e com frescor e taninos que dão musculatura para o vinho envelhecer com dignidade.

Lote 43 2012
Ainda está nas barricas, mas a previsão é que seja melhor que o 2005.  Se curte aplicar no mercado de futuros, eis uma oportunidade!

O jantar foi harmonizado assim:

RAR Viognier 2011
Frutado, com notas defumadas, manteiga com mel e mentol.  Nada de tipicidade, mas gostoso de beber.

Miolo Milesime
Um ótimo espumante, mas a temperatura mais baixa que devia ofuscou os aromas.

Os dois foram servidos para harmonizar com Salada de Bacalhau e Feijão de Corda e cumpriram bem a missão.  O espumante cumpriu com louvor.

Para o prato principal, Miolo Merlot Terroir
Não sei a safra, mas o vinho estava excelente.  Para mim, a melhor compra da Miolo.  Foi muito bem com o Bife Ancho de Bonsmara, Arroz de Brócolis e Farofa de Ovos.

A sobremesa foi Sorvete de Creme com Torta de Castanhas e/ou uma Mousse Perfeita de Chocolate (o perfeita é por minha conta) que pediu uma tacinha de Burmester Tawny 10 anos.  Azar de todos nós que não perguntamos o preço antes: 43 reais o cálice diminuto.  Indignados com o preço, valeu pelo conjunto da obra!

Enfim, devo dizer que tive a impressão de que inverteram a ordem da degustação para que os vinhos mais antigos não ficassem muito prejudicados já que não estão mais tão no auge.  Imagino que a partir da safra 2004, a primeira elaborada com técnicas modernas de vinificação, a Miolo poderá seguir a regra e apresentar vinhos melhor envelhecidos. No mais, fica a frustração do serviço do vinho que, por incrível que pareça, dessa vez, deixou a desejar no restaurante Dom Francisco.

Um comentário:

  1. Legal Sabrina. Fui à mesma degustação aqui no Rio, em 2011. O 1999 já dava sinais de cansaço, o 2002 estava rústico mas bom, o 2004 estava ótimo, o 2005 muito bom e prometendo (foi o que adquiri) e o 2008 ainda muito nervoso.
    Parabéns pelo blog!
    Abraços, e bons vinhos.
    Felipe.
    http://bebadovinho.blogspot.com

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