sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sexo e Vinho, por Rogério Glass

Se há algo em que se percebe a harmonização perfeita no mundo enológico é a combinação sexo e vinho. Pense bem, quantas vezes na sua vida depois do vinho veio o sexo e você reclamou? “Raríssimas vezes” é o máximo que se pode dizer. Non è vero, Baco? Não és verdade, Periquita?

Certamente, após uma tertúlia com os amigos na qual os vinhos até então decepcionaram, ou seja, não apresentaram aquele esplendor de buquês, estavam ácidos demais ou com taninos chochos, o que está por vir se encaixa. A extensão da noite iniciada com um beijo rubro a la merlot incendeia o álcool no retrogosto, revitaliza o aroma agora com toques picantes e, por fim,  a acidez desce ao ponto exato cintura abaixo.

À mesa, em um bar ou restaurante, quando você pergunta a um novo affair o que vão beber e a resposta vem inebriada com um falso ingênuo sorriso rosé: “acho que vou querer vinho...”    T a n n a t  ! ! !   Já harmonizou, não importa o que vão comer, ou quem vai comer quem. Peça um prato leve que a noite vai exigir refrão.

Até aquele chileno reservado carmenére ou um cabernet pampeano, desabonados honestos, se revelam um Marques de Casa Concha ou um Lote 43 num domingo à tarde sem pretensões, basta o sol bater na inclinação correta adentrando a janela com cortinas e pernas tremulantes, exalando os açúcares florais de uma bela casta autóctone com toques manuais minerais de sua companhia de safra excepcional.

E quem disse que o espumante é excelente para iniciar a noite? Pode até ser, mas para terminá-la também o é. Imagine que ao entrarem no quarto e após se lançarem numa degustação horizontal repleta de sussurros amanteigados, de tremores de damasco e de rangeres de cama amadeirados e com um final Bordeaux Premier Grand Cru, você relaxa e busca, estendendo o braço, aquele Crémant démi-sec na temperatura ideal... Não haverá nada mais refrescante e que preencha tanto aquele momento do que o estrelar das bolhas no céu da boca.

P.S.: Baco é o deus do vinho, da ebriedade, dos excessos, especialmente sexuais, e da natureza. As festas em sua homenagem eram chamadas de bacanais.
P.S.2: Bacana, não?

4 comentários:

  1. Sensacional. Adorei o bom humor e as metáforas inteligentes. Ótimo pra curar ressaca de champagne!

    Abração!

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  2. Valeu meu inopinado amigo Cesar.
    Mudando de assunto, recebemos uma foto sua. Estava próximo à Presidente, deu ressaca?

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  3. Genial!!!
    O tema, as analogias e a dubiedade das palavras.

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