Finalmente consegui visitar uma vinícola. A escolhida foi a Bodega Bouza. Me disseram que era a mais próxima do centro de Montevidéu, então daria tempo. O trajeto levou cerca de 40 minutos e tive um atendimento exclusivo. Me senti uma importadora sendo paparicada por potenciais fornecedores! Na verdade, esclareço, foi porque só havia eu para a visita...
Bom, é uma vinícola boutique, familiar e recente. Seu primeiro vinhedo é de 2001, seu primeiro vinho de 2003. Tem apenas 23 hectares e uma produção de 90 a 100 mil garrafas/ano. Quase todos os vinhos passam por barrica (francesas e americanas) entre 4 e 18 meses, inclusive os brancos. As barricas são utilizadas apenas 3 vezes e então vendidas para quem tiver interesse (taí a dica para quem quiser uma barrica decorando a sala!).
Em um piso abaixo da cava, os proprietários mantêm uma vinoteca. 40 garrafas de cada vinho produzido são sempre reservadas para formarem o arquivo e permitir avaliações futuras sobre a evolução dos vinhos. A visita inclui ainda uma passadinha pelo museu de automóveis clássicos, um hobby do proprietário.
Vinoteca |
Coleção de carros antigos |
Após a visita, fui para a degustação no restaurante da vinícola. Charmoso e aconchegante, vale a visita - aberto apenas para almoço.
Degustei 5 vinhos acompanhados de frios e pães. Achei o máximo, pena que tinha acabado de comer e estava lá sozinha. Com o sommelier ao meu lado me observando, não me senti à vontade para ficar lá a tarde toda degustando os vinhos e os petiscos com calma... Ah, devo dizer que essa mordomia de se ter comidinhas durante a degustação se deve ao fato de que me custou US$ 25.
Sou bastante suscetível a visitas a produtores, geralmente me encantam e me convencem que fazem o melhor vinho do mundo. Ao final da visita, já na degustação, com o pouco de racionalidade que ainda me resta, consigo comprovar ou não minhas impressões. A meu favor e para salvar minha promissora “carreira” como enófila, devo lembrar que sim já aconteceu de visitar vinícolas que não me convenceram em nada... ufa!
Em Bouza, fui mais uma vez abduzida. A preocupação com a qualidade de seus vinhos demonstrada durante a visita me impressionou e os vinhos degustados depois não fizeram por menos:
Trata-se de um corte de Chardonnay e Albariño (50/50). O único da vinícola que não passa por carvalho. Bastante frutado, com aroma destacado de papaya (ainda não havia sentido esse aroma assim tão forte). Boa acidez e boa persistência.
2. Tempranillo Rosé 2010 – Linha Clássica
Não impressionou pelos aromas sutis de leveduras, mas surpreendeu em boca. Equilibrado, untuoso e persistente.
3. Merlot Tannat 2010 (60/40) – Linha Clássica
12,5% de álcool. Bem mais merlot que tannat, tanto em seus aromas herbáceos quanto em boca, menos encorpado.
4. Tannat 2009 – Linha Clássica
Surpreendeu. Cor púrpura intensa, aromas marcantes, envolventes, taninos macios, redondo, uma delícia de tomar.
5. Tannat A6 2009 – Parcela Única
Aromas intensos de frutas vermelhas, chocolate, tostado. Em boca, mais uma excelente surpresa. Taninos muito macios, bastante equilibrado, final persistente. 18 meses em barricas novas de carvalho francês e americano.
A linha Parcela Única trata-se de um vinho elaborado com uvas provenientes de um único lote do vinhedo. Todos os lotes recebem uma letra e um número e os melhores são destinados à elaboração de vinhos exclusivos. Há também o A7, o A8 e o B6 para Tannat, para Tempranillo, o B15 e o B9 para Merlot.
Outra linha top da vinícola é o Monte Vide Eu, um corte selecionado de Tannat, Merlot e Tempranillo.
Resultado: saí com duas garrafas, um Tannat Clássico 2009 (R$ 32,00, melhor impossível!) e uma de A6 que, ao chegar em casa e abrir a caixa, descobri ter sido trocado por um A7 Siete Barricas. Imagino e espero que seja do mesmo nível daquele que provei na degustação. Parece ser mais elaborado. A ver!
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