sexta-feira, 11 de maio de 2012

Degustação de Vinhos Austríacos

A ABS Brasília promoveu uma degustação de vinhos austríacos que minha curiosidade não me permitiu perder.  Ainda bem, contou com vinhos muito interessantes e foi muito bem conduzida por Lélio Fellows.

Desde 2000, após o escândalo do etileno glicol em 1985 quando os vinhos austríacos foram praticamente banidos do mercado, a Áustria tem experimentado um verdadeiro renascimento. Com modernização e maior rigor na produção, seus vinhos passaram a se destacar em importantes concursos internacionais.

O fato é que a vitivinicultura austríaca remonta aos séculos 11 e 12, com os monges cistercianos, e foi na Áustria, em 1860, que foi fundado o primeiro centro de ensino e pesquisa sobre enologia no mundo.

Um dos responsáveis pelo aperfeiçoamento da produção foi Loimer que recuperou tradições e passou a usar grandes barris de carvalho para fermentação, inspirando os novos produtores.

O clima continental mais intenso e as safras modestas resultam em vinhos mais potentes que na Alemanha.  A casta autóctone Grüner Veltliner ocupa mais de 1/3 dos vinhedos, não é a mais antiga, mas a que tem dado melhores resultados nos últimos 50 anos.

A região de origem aparece apenas nos Qualitätswein, que podem se tornar Prädikatswein se também indicarem as características da uva na colheita (graus de amadurecimento, botrytizadas, congeladas ou secas).  A DAC (Districtus Austriae Controllatus) é uma regulamentação nova e nem todas as regiões contam com seu registro.


Wachau
A mais renomada e mais cara, conta com 3% dos vinhedos austríacos e parece que ainda não adquiriu seu DAC.  Seus brancos são diferenciados em razão de seu clima e geografia.  Os verões quentes propiciam potencial alcóolico de 15% ou mais e as noites frescas mantêm a acidez.

A uva mais plantada é a Grüner Veltliner e, na região, origina vinhos mais vivos e apimentados, com grande capacidade de envelhecimento.

Wachau tem uma classificação particular:
Steinfeder para vinhos com até 11% de álcool, para serem bebidos jovens
Federspiel, feito de uvas um pouco mais maduras, álcool entre 11,5% e 12,5%, para serem bebidos em até 5 anos.
Smaragd são os mais encorpados, com mais de 12,5% de álcool, podem ser apreciados em 6 anos ou mais

DAC Kremstal e Kamptal
Estão ao lado de Wachau e possuem qualidade e estilo similares, mas geralmente são mais baratos.

DAC Weinviertel
Dessa região saem vinhos mais frescos e mais leves.  Para atender a demanda por tintos, Zweigelt, Blauer Portugieser e Blaufränkisch ocupam 1/5 dos vinhedos. Os melhores tintos são de Mailberg.

Burgenland
Terra dos melhores doces e tintos.  Existe um lago ali perto que fica coberto de névoa no outono e estimula o Botrytis.  Por ser uma região mais quente, as tintas amadurecem bem e a neblina da manhã mantém a acidez.  É também o local com maior diversidade de castas e o único onde Zweigelt e Blaufränkisch são mais encontradas que Grüner Veltliner

Mittelburgenland é uma DAC e metade de seus vinhos são de Blaufränkisch, mais leves, minerais e especiados, refletindo o alto índice de ferro de seu solo. A outra DAC é Neusiedlersee.

Outras regiões:
DAC Traisental e Donauland com bons Grüner Veltliner.
Carnuntum com tintos fáceis, principalmente de Zweigelt.
Thermenregion com seus Pinot Noir e a parente St. Laurent, além de Chardonnay.

Degustação

Os vinhos brancos me impressionaram bem mais, tenho um fraco por mineralidade.  Os vinhos tintos não despertaram paixão.  Haveria de ter uma razão para mais de 60% da plantação ser de castas brancas!  Os austríacos consomem 76% dos vinhos produzidos e, portanto, sobra pouco para exportação, o que pode ajudar a explicar a dificuldade de se encontrar vinhos austríacos no Brasil e seus altos preços. 

Loimer Terrassen Reserve 2009
Grüner Veltliner
Kamptal 
13% álcool
Os vinhos da Grüner Veltliner se caracterizam por serem frescos e frutados, com bastante acidez e retrogosto entre grapefruit e ervas.  No local e nas mãos certas, pode envelhecer bem.

Loimer, como dito antes, é um produtor tradicional e biodinâmico. Seus vinhos, portanto, buscam refletir bem o terroir. Fermentado em aço inox, o vinho teve passagem por madeira.
Estranhei um pouco os aromas no início, mas logo passou e o vinho foi revelando aromas de flores, mel e notas minerais.  Aromático, fresco e elegante. R$ 202,50.

Sugestão de harmonização: sushi e sashimi, camarão, peixes, carnes brancas condimentadas, moqueca.

Heidi Schrock Furmint – 2009
Furmint 
Bungerland 
13,5% álcool
Produção biodinâmica, fermentado em inox com rápida passagem por madeira.
A Furmint tem origem húngara, é intensa em bouquet, picante, com acidez marcante, pode produzir vinhos muito alcóolicos. É difícil de cultivar e é facilmente atacada por Botrytis.

Este rótulo apresentou aromas florais (camomila evidente), frutas brancas e notas de óleo mineral sutis que nos fizeram confundi-lo com o Riesling.  Após um tempo na taça, aroma de pedra de isqueiro.  Com ótima acidez, é fresco, com final médio. Por R$ 141,50, bebo vários de novo, na Áustria.
Sugestão de harmonização: carnes brancas com especiarias, lombo, peixes grelhados ou assados, carnes e massas com molho branco gratinado, fondue de queijo.


Hirsch Zobing Riesling 2009 
Riesling
Kamptal
12% álcool
Também de produção biodinâmica, foi fermentado em inox e passou 3 meses em barricas.
Elegante, com aromas minerais e florais. Acidez viva e final de boca apimentado. Delicioso.  Por R$ 165,90, também beberei de novo em uma viagem à Europa.
Sugestão de harmonização: frutos do mar, saladas, carnes brancas, salmão, bacalhau e queijo de cabra.

Umathum Zweigelt Classic – 2009 
Zweigelt
Burgenland
12,5% de álcool
Produção biodinâmica, fermentação em barricas de carvalho austríaco não tostado.
A Zweigelt é a tinta mais cultivada no país e produz vinhos muito frutados quando jovem, podendo se tornar mais elegante com o passar dos anos.  Geralmente seus vinhos não são complexos e servem de base para cortes com Cabernet Sauvignon, por exemplo. 

Nariz adocicado de frutas vermelhas e baunilha, acidez elevada.  Final de boca com leve amargor.  Por R$ 161,80, acho que não bebo mais, mas já ganhou 90 pontos de alguém mais importante e provavelmente mais entendido que eu.
Sugestão de harmonização: carnes assadas mal passadas e massas em geral.


Prieler Leithaberg – 2008
Blaufrankisch
Burgenland
13,5% de álcool
Adivinha o tipo de produção?  Sim, biodinâmica. Fermentação em aço inox e envelhecimento em carvalho austríaco (o nacionalismo também aparece nas cápsulas que trazem a bandeira da Áustria, em todos os vinhos).
Após um primeiro ataque de madeira, aromas profundos de frutas vermelhas e especiarias apimentadas.  É um vinho gastronômico, equilibrado, com taninos bem macios, acidez na medida e final de boca persistente.  Por R$ 331,90, não compro não, mas certamente bebo por lá se o preço for melhor.
Sugestão de harmonização: carnes vermelhas encorpadas, carnes de caça, massas condimentadas e comida árabe.

Cuvée Beerenauslese 2007
Branco Doce
Chardonnay (80%) e Welschriesling (20%)
Elaborado com uvas colhidas com parcelas botrytizadas, foi minha primeira experiência com o fungo.
Maturação por 6 meses em tanques de aço inox, resultou com 13% de álcool e açúcar residual de 73,4 g/l.
Aromas de frutas secas: damasco, tâmaras. Em boca, muito cremoso e delicioso.  Por mim, poderia ter um toquezinho a mais de acidez. R$ 87,88, finalmente um que consigo pagar!

Para encerrar, com uma tábua de frios:
Bründlmayer Zweigelt 2008
Kamptal
100% Zweigelt
12% de álcool
Fermentação malolática.
Este me agradou mais (ou será que depois de tanto vinho tudo já estava me agradando mais?).  Enfim, achei que apresentou mais a tipicidade da Zweigelt, mais frutado, mais leve. Com aromas de frutas vermelhas, café e especiarias.  Equilibrado, com boa acidez e taninos macios.  Bebo de novo até mesmo aqui no Brasil: R$ 88,62.

Os vinhos degustados são importados pela The Special Wineries, com exceção do branco de sobremesa, pela Mistral.

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