quinta-feira, 31 de maio de 2012

Notas de Degustação - o que faz você feliz?

Na hora de escolher um vinho, o que te convence a comprá-lo além da reputação ou conhecimento prévio?

Tem gente que segue pontos.  Se Robert Parker deu mais de 90, é bom.  Se Jancis Robinson deu menos de 15, não compra.  Tem aqueles que andam com o guia do Hugh Johnson embaixo dos braços (meu caso, por exemplo, quando vou a alguma região onde não conheço bem os produtores).

O que me faz mesmo querer provar um vinho é a descrição.  Fico entusiasmada com um vinho vivo, mineral  ou com taninos sedosos e final encantador.  Desnecessário comentar minha reação sobre um vinho potente. Mas gosto de vinho elegante também.  Agora que entendo melhor o conceito, gosto mais ainda.

O que dizer de um vinho sedutor?  Elegante e sedutor, só pode ser bom!  Confesso que ainda não sei bem o que quer dizer, mas me atrai bastante. Vinhos gulosos me causam grande empatia, mas me sinto um pouco intimidade diante de um vinho austero e classudo.

Fico instigada com "toques florais e minerais que fecham um buquê inebriante".  E salivo ao pensar em um vinho suculento, untuoso, em toques defumados, em compota de frutas vermelhas ou mesmo em "massa de frutas negras complementadas por nuance floral deliciosa", você não?

Tenho um amigo que adora cheiro de gasolina, imagino que deva ir ao céu ao ler as notas de alguns Rieslings.  Uma amiga jamais terá interesse em provar um vinho com aromas de banana, ela tem trauma da fruta.

Notas terrosas não me soam como perfume e não sou louca por aromas animais, sei que há quem goste e sei que pode se tratar de vinhos antigos e complexos, características estas que sim me farão querer prová-lo.

E há algumas que não me dizem nada, geralmente porque não tenho idéia do que estão falando.  No especial Bordeaux 2009 da Revista Adega, sobre o Château Gruaud-Larose 2009: "sua impressionante acidez lembra a estrutura do 1988 e seu sabor nos remete ao do inesquecível 1982".  Além da minha ignorância, tenho que controlar minha inveja dessa memória incrível.

Ainda tenho dúvidas sobre como deve ser um vinho focado. E cor rubi-carmesim, você sabe?  Claro que foi escrito por uma mulher.  Também não sei qual o gosto de groselha negra.  Crescida em Minas, habitante do cerrado e com orçamento limitado para viagens, me achava sortuda de já ter provado a groselha vermelha.  Ah, sim, é cassis.  Gosto do licor serve?

Se o que importa é saber se o vinho é bom ou não, as notas nos remetem à estaca zero. Afinal, sobre o gosto e o desgosto não se impera.  As descrições dos aromas sinalizam, mas não definem, o que seduz varia.  E como varia! 

O vinho será bom se cumprir com minhas expectativas, será bom se comparado às minhas referências, poderá ser bom simplesmente por ser diferente.

Descrição real mesmo é técnica, sobre características definidas e obrigatórias (Matt Kramer da revista Wine Spectator disse: se não pode ser medido, não é real), o resto é pura lembrança, referência, afeto e sedução. 

Admiro e brindo à capacidade daqueles que conseguem transformar em desejo as notas de degustação e que sabem usar as palavras certas para incitar sonhos.  No final do dia, é isso que dá sentido aos vinhos e o que te faz querer pagar por ele.

O que faz você feliz?

Um comentário:

  1. Muito bom !
    Acho legal descrever mas rola muito preconceito de quem nao curte vinhos.
    Gosto das classificações, como faz o gambero rosso, por exemplo, sem determinar notas...
    Saude,
    Sergio.

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