Estou em Montevidéu a trabalho e, claro, bastou pousar em Carrasco que já pensei em um post sobre os vinhos uruguaios!
Com minha tacinha de um corte de Tannat e Merlot Don Pascual (Juanicó), percebo que a história da produção de vinho no Uruguai é bem parecida com a história brasileira. Iniciada na primeira metade do século 16, teve seu desenvolvimento atrasado por diversos conflitos internos e, apenas por volta de 1870, com chegada dos espanhóis, a vinicultura começou a se tornar mais importante.
Foram os bascos e catalães que trouxeram a Tannat e, como aconteceu com a Malbec na Argentina, a Tannat encontrou um ambiente favorável no Uruguai e se tornou a uva símbolo do país. Aqui, a Tannat produz vinhos mais equilibrados e macios, que podem ser bebidos com apenas um ou dois anos de idade, ao contrário do que acontece no sudoeste francês, berço da cepa (lá conhecida como Madiran).
A Tannat, como o próprio nome sugere, é bastante tânica e geralmente é cortada com Merlot no Uruguai para maior equilíbrio. No Uruguai, como na Serra Gaúcha, há grandes diferenças entre safras, mas as mais recentes têm, quase todas, conseguido alta qualidade (viva o aquecimento global??).
A produção no Uruguai é de 112 milhões de litros/ano dividida por 9 mil hectares. A maioria dos produtores (cerca de 300) possuem pequenas propriedades, com menos de 5 hectares. O consumo interno é de 24,7 litros anuais por pessoa, restando apenas cerca de 3 milhões de litros para exportação. Grande parte vai para o Brasil. Apenas para comparação, o consumo no Brasil ainda é de 1,8 litros por pessoa (dados de 2004, que parecem não ter se alterado muito), o que me convence, cada vez mais, que realmente estou bebendo a parcela de outras pessoas!
Com relação a qualidade, ainda não há muitas normas para a produção do vinho uruguaio. Não há denominações regionais e a indicação de Reserva e Gran Reserva segue os padrões do produtor. Como no Brasil, o século XX ficou marcado pelo predomínio das cepas americanas e, apenas nos anos 90, iniciou-se um processo para melhoria de qualidade dos vinhos uruguaios. Os vinhedos foram substituídos por vitis viníferas e técnicas modernas de vinificação foram introduzidas.
Para domar os potentes taninos da Tannat, utiliza-se a técnica da microoxigenação: pequenas quantidades de oxigênio são introduzidas no vinho durante sua fermentação para torná-lo menos agressivo ao paladar, preservando sua potência e aromas.
Além das castas tradicionais, destacam-se também Viognier, Trebbiano, Torrontés e algum Pinot Noir.
Os uruguaios têm se esforçado para conseguirem o sucesso dos argentinos e chilenos, apesar da produção reduzida. Alguns produtores têm se dedicado a incrementar a qualidade, visando as exportações, e têm se destacado. Vale mencionar os tradicionais Marichal, Pizzorno, De Lucca, Castillo Viejo, Pisano (com vinhos elegantes) e Juanicó (com seu top Preludio e uma joint venture com Bernard Magrez do Chateau Pape Clément de Bordeaux para a produção do Gran Casa Magrez), além do novato Bouza e outros.
Se o trabalho permitir e conseguir visitar uma vinícola, conto pra vocês!