quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uruguai, a terra da Tannat

Estou em Montevidéu a trabalho e, claro, bastou pousar em Carrasco que já pensei em um post sobre os vinhos uruguaios!

Com minha tacinha de um corte de Tannat e Merlot Don Pascual (Juanicó), percebo que a história da produção de vinho no Uruguai é bem parecida com a história brasileira.  Iniciada na primeira metade do século 16, teve seu desenvolvimento atrasado por diversos conflitos internos e, apenas por volta de 1870, com chegada dos espanhóis, a vinicultura começou a se tornar mais importante.

Foram os bascos e catalães que trouxeram a Tannat e, como aconteceu com a Malbec na Argentina, a Tannat encontrou um ambiente favorável no Uruguai e se tornou a uva símbolo do país. Aqui, a Tannat produz vinhos mais equilibrados e macios, que podem ser bebidos com apenas um ou dois anos de idade, ao contrário do que acontece no sudoeste francês, berço da cepa (lá conhecida como Madiran).

A Tannat, como o próprio nome sugere, é bastante tânica e geralmente é cortada com Merlot no Uruguai para maior equilíbrio.  No Uruguai, como na Serra Gaúcha, há grandes diferenças entre safras, mas as mais recentes têm, quase todas, conseguido alta qualidade (viva o aquecimento global??).

A produção no Uruguai é de 112 milhões de litros/ano dividida por 9 mil hectares.  A maioria dos produtores (cerca de 300) possuem pequenas propriedades, com menos de 5 hectares.  O consumo interno é de 24,7 litros anuais por pessoa, restando apenas cerca de 3 milhões de litros para exportação. Grande parte vai para o Brasil.  Apenas para comparação, o consumo no Brasil ainda é de 1,8 litros por pessoa (dados de 2004, que parecem não ter se alterado muito), o que me convence, cada vez mais, que realmente estou bebendo a parcela de outras pessoas!

Com relação a qualidade, ainda não há muitas normas para a produção do vinho uruguaio. Não há denominações regionais e a indicação de Reserva e Gran Reserva segue os padrões do produtor.  Como no Brasil, o século XX ficou marcado pelo predomínio das cepas americanas e, apenas nos anos 90, iniciou-se um processo para melhoria de qualidade dos vinhos uruguaios. Os vinhedos foram substituídos por vitis viníferas e técnicas modernas de vinificação foram introduzidas.

Para domar os potentes taninos da Tannat, utiliza-se a técnica da microoxigenação:  pequenas quantidades de oxigênio são introduzidas no vinho durante sua fermentação para torná-lo menos agressivo ao paladar, preservando sua potência e aromas.

Além das castas tradicionais, destacam-se também Viognier, Trebbiano, Torrontés e algum Pinot Noir.

Os uruguaios têm se esforçado para conseguirem o sucesso dos argentinos e chilenos, apesar da produção reduzida.  Alguns produtores têm se dedicado a incrementar a qualidade, visando as exportações, e têm se destacado.  Vale mencionar os tradicionais Marichal, Pizzorno, De Lucca, Castillo Viejo, Pisano (com vinhos elegantes) e Juanicó (com seu top Preludio e uma joint venture com Bernard Magrez do Chateau Pape Clément de Bordeaux para a produção do Gran Casa Magrez), além do novato Bouza e outros.

Se o trabalho permitir e conseguir visitar uma vinícola, conto pra vocês!

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