Tratava-se de um Grands Echezeaux 1977. Não se deixe impressionar pelo vinho, essa safra na Borgonha não foi das melhores. O clima transformou as boas condições do ano anterior. A chuva caiu constantemente, quase diariamente durante julho. A primeira quinzena de agosto contou com uma volta ao clima favorável, mas houve algumas tempestades violentas no final do mês. Um setembro ensolarado ajudou a amadurecer as uvas e a colheita começou tarde, apenas na primeira semana de outubro.
Então, como não tive a sorte de nascer em 78 por uma questão de dias, já estava me convencendo a ter que seguir os conselho do baterista do Kings of Leon e desistir de presentes de aniversário safrados, a não ser, no meu caso, se for um vinho do Porto!!
Após a difícil tarefa de decantar e separar as borras, deixei a bebida aerar por mais de 4 horas. Nesse período, incorporei Maya do filme Sideways e fiquei ali pensando em como foi a safra, imaginando as pessoas que participaram da elaboração e contabilizando tudo que já aconteceu durante o tempo em que ficou ali na garrafa envelhecendo. Ah, as histórias...
Separando as borras |
No decanter, os aromas já estavam agradando, mas ainda estava tensa sobre o primeiro gole. Poxa, é normal essa tensão quando você compra um vinho com essa idade, de um produtor que não é grande coisa, de uma safra que foi pior ainda. Mas, what the hell, será que em 1977 já existia essa coisa de grandes e bons produtores? Talvez naquela época o Marché aux Vins era o melhor que se poderia ter...
Para acompanhar, uma refeição à altura: Coq au Vin (que não era Coq, mas um frango mesmo). Um dos dois teria que salvar a noite!
"Frango" au Vin |
Vermelho âmbar com reflexos amarronzados e imagino que o fato de não ser uma safra boa se refletiu em um vinho ainda mais leve, ainda mais delicado, menos rico em aromas e menos denso em sabor, mas ainda refinado, com aromas típicos da Pinot Noir, encantador e muito fresco. Morangos e framboesas, alcaçuz, um pouco de chocolate e caramelo. Foi se abrindo mais e mais com o tempo e atingiu um frescor surpreendente. 34 anos. Impressionante.
Grands-Echezeaux 1977 |
Valeu cada minuto e cada gole. E mesmo se estivesse muito ruim, acho que não me importaria, tinha uma raridade de 1977 nas mãos. E sei lá quando terei uma oportunidade dessa de novo na vida!
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