quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Eno-Preconceitos, por Carol Cirotto (a 1ª Parte da Degustação de Grandes Vinhos Brasileiros)

(Conforme prometido a minha amiga Sabrina, aí está minha colaboração para  o blog. Eu tardo, mas não falho!)

Preconceito, de acordo com Aurélio, é” um conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos”. Sim, eu tenho preconceitos! Entre os confessáveis em um blog, posso citar os vinhos nacionais.

Estava eu confortável com o meu preconceito, até que a Sá me convidou para uma degustação de grandes vinhos brasileiros... Grandes vinhos brasileiros? Só pode ser ironia, ou então, uma degustação de espumantes. Será?
Como a companhia valia a tentativa, aceitei o convite! A harmonização de um Miolo Reserva 2004 com Penne ao Ragú de cordeiro também pesou na decisão (#gulafeelings)... mas o mais importante foi que se, como disse Seu Aurélio, o preconceito está intrínseco à ignorância,  eu resolvi encarar meu preconceito de frente e me informar melhor.
Bom, sempre achei os vinhos tintos brasileiros medianos (ou medíocres) e caros para o que ofereciam. Será que a degustação acabará com essa visão?
Antes de experimentarmos os vinhos, fomos informadas que o objetivo da degustação seria mostrar a evolução do vinho brasileiro... Opa! Parece que vim no lugar certo. A evolução seria mostrada por meio de 9 vinhos (mais um vinho da harmonização). Com certeza, estou no lugar certo ;0)
O primeiro vinho foi o Quinta Santa Maria Gran Utopia 2008 (70% Cabernet, 30% Merlot). De acordo com o produtor, um vinho encorpado, elegante, longo final de boca, com notas de baunilha, chocolate, tabaco e alcaçuz.  Minha humilde opinião: vinho fresco, mas nada elegante. Forte acidez. Notas de puro alcaçuz (eu não gosto de alcaçuz), na opinião da Sá, de pimentão (pimentão também não está na minha lista de preferências). Ok... não adorei.
O segundo vinho foi o Antônio Dias Cabernet Sauvignon 2008 (100% Cabernet, claro). Descrito como  aveludado, equilibrado com taninos macios e persistentes. Aroma de frutas vermelhas super maduras, chocolate e café torrado. Eu achei o vinho bem mais agradável que o anterior. Realmente os taninos são macios, um pouco demais na minha opinião, falta acidez. Quanto ao aroma de frutas maduras e chocolate, nem sinal. No final, ficava um gosto predominante de menta. Bom, gostei, tomaria comendo uma pizza, mas nada surpreendente.

Antônio Dias Cabernet e Gran Utopia

O terceiro foi um dos vinhos da degustação vertical Miolo Lote 43, 2008, (50% Cabernet, 50% Merlot). Eu estava cheia de expectativas, primeiro, porque esse vinho é o ícone da Miolo, segundo, pela possibilidade de depois provar o mesmo vinho do ano de 2002 e poder sentir a passagem do tempo na ponta de língua (ansiedade!). Bem, o vinho é descrito como de boa intensidade e aromas de ameixas secas, geléias, couro, tabaco, trufas, groselha, hortelã, vegetal, vime e nozes (ufa...). Parece bem complexo, não? (ansiedade!). E realmente é o melhor dos 3, mais complexo, acidez no ponto, aroma predominante de frutas secas (tabaco? vime? Não, não percebi). Bem bom.
Quarto vinho: Casa Valduga Villa-Lobos 2006 (100% Cabernet). A promessa é de vinho com bom corpo, taninos maduros, persistência gustativa longa e agradável. Aroma de frutas vermelhas maduras com cassis, toques de especiarias, baunilha, café e chocolate. Hum... adoro vinhos que prometem bom corpo. Bem, como dizer isso, a-do-rei!  Uau! Acidez perfeita, aroma complexo e, com certeza, persistência gustativa longa. Mais que agradável, excelente! E agora? O que faço com meu preconceito? Hein, Sá?
O quinto vinho era o Don Abel Gran Reserva Safra 2005 (70% Cabernet, 30% Merlot). As informações fornecidas foram vinho sem adição de açúcar (Como assim? Essa informação é mesmo necessária?), sabor intenso, paladar aveludado e encorpado, taninos maduros. Vencedor de dois prêmios. Nossa! Vencedor de prêmios? Vamos prová-lo, então. Percebe-se nesse vinho uma coloração opaca, aroma ácido, sabor intenso de… removedor de esmaltes? Talvez, seja necessário deixá-lo respirar mais um pouco. Não, o vinho está mesmo oxidado… Comoção… é Don Abel, fica para a próxima.
Partimos para o sexto vinho da noite, Aurora Milésime Cabernet Sauvignon 2005 (100% Cabernet). Esse vinho é elaborado apenas em anos nos quais  as condições são consideradas excelentes para a produção. Foi produzido somente em 1991, 1999, 2004, 2005 e 2008, sendo os de 2005 feitos com a melhor safra existente. Possui aromas de frutas vermelhas maduras, notas de baunilha e chocolate, taninos aveludados e excelente persistência. Minha opinião: aroma de vinho maduro, bem encorpado, sabor persistente… simplesmente, maravilhoso!
O sétimo vinho foi o Don Giovanni Tannat 2004 (100% Tannat), descrito como um vinho de taninos macios, bom volume de boca e final prolongado. Aroma de frutas vermelhas, notas de cacau, chocolate e champignon. Bem, eu achei decepcionante. Não sei se foi porque o vinho anterior era tão perfeito, achei esse bem mediano.
O oitavo vinho foi o segundo vinho da degustação vertical (ficou confuso?) Miolo Lote 43 2002 (50% Cabernet e 50% Merlot). A descrição já está acima, é igual a do ano 2008, mas ao provar pode-se perceber que o tempo fez muito bem ao vinho. Acidez na medida, sabor prolongado na boca, aroma de frutas secas marcado, mas neste consegui perceber o vime, o tabaco , as nozes… tudo! Envelhecer faz bem.
O nono e último vinho da degustação foi o Boscato Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2001 (100% Cabernet). O vinho prometia taninos maduros e aroma de frutas maduras, amora, ameixa, especiarias, café e cassis. Tudo isso potencializado pelos 10 anos de maturação… mas, durante a degustação, percebemos um gosto azedo ao final… é, o vinho já tinha passado de seu melhor e começava a demonstrar  os sinais maléficos do passar do tempo.
Resumindo, vários vinhos de boa qualidade, mas os meus top 3 são: Aurora Milésime Cabernet Sauvignon 2005, Casa Valduga Villa-Lobos 2006 e Miolo Lote 43 2002 (nesta ordem).
Essa degustação me fez perceber que o preconceito nos impossibilita de viver coisas boas e usufruir novas sensações. Existem sim bons vinhos brasileiros, não sei se melhores ou piores que os italianos, mas diferentes. Obrigada, Sá! Obrigada por destruir um dos meus preconceitos.... boas amizades nos proporcionam isso!

4 comentários:

  1. Oi!!! muito legal seu blog. Estive lendo alguns posts. Sou da argentina, morei 2 anos em PoA. Conhecí algumas "Adegas" das Serras. Eu fiquei muito encantado com alguns espumantes daquela regiao, principalmente porque sou adorador da fruta moscatel. Mas eu nao podía te deixar de perguntar. Cadé o Torrontés? hehe Eu sou de Salta, perto de Cafayate. Tem que fazer o tour algúm día e experimentar o Torrontés "Gran Linaje" de Bodegas Etchart. Abrazo

    ResponderExcluir
  2. Caro Diego, trata-se apenas de uma infeliz coincidência! Até o início do blog, todas as minhas viagens à Argentina resultavam em algumas garrafas de Torrontés! E sempre de Cafayate, por supuesto. Meu marido tem um amigo em Tucumán que já havia nos doutrinado sobre as delícias dessa variedade e dessa região. Sua dica está anotada e, assim que prová-lo, farei um post especial!
    Obrigada!

    ResponderExcluir
  3. Cara Carol, fazer uma degustação com esses grandes vinhos brasileiros é um privilégio do qual poucos usufruem, te parabenizo por isso.
    Quanto a seus comentários a respeito da maioria dos vinhos degustados, percebi que faltaste com a verdade quando disseste que não havia mais preconceito quanto aos vinhos nacionais, pois já foste com um juízo antecipado relativo a qualidade dos vinhos que la encontraria.
    Sou enólogo a mais de 20 anos, trabalhei em vinícolas em Portugal, Espanha, Argentina, Chile e Brasil onde fiz morada a algum tempo. Durante todo esse tempo, em nenhum desses países, ouvi comentários tao malevolentes e de certa forma (com o perdão da palavra) ignorantes a respeito dos vinhos de sua própria pátria.Conheço todas as vinícolas citadas e profissionais envolvidos, e tenho certeza da qualidade dos vinhos que degustaste.
    Admiro que se interesse pelo assunto, mas um conselho de amigo é que estude um pouco mais, conheça as vinícolas, deguste mais, e dispa-se realmente dos preconceitos, pois somente assim os vinhos brasileiros serão reconhecidos ante o mundo, pois o produto nacional só é valorizado quando seus compatriotas reconhecem seu valor e qualidade.
    grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Caro Fernando,

    Foi justamente isso que a Carol fez, se interessou, tentou conhecer as vinícolas, degustou mais e se despiu de preconceitos. É esse o conteúdo da postagem, cujo objetivo foi justamente convidar outros brasileiros a descobrirem e valorizarem o produto nacional.

    Existia mesmo um juízo antecipado, o próprio título fala de preconceito (conceito antecipado), que só poderia ser, e foi, superado ao final da degustação.

    Ao contrário do que vc percebeu, os comentários não foram de forma alguma malevolentes e ignorantes. Os vinhos foram descritos conforme o paladar dela, de alguns gostou mais que de outros, como aconteceria com vinhos de qualquer outra nacionalidade. Em momento algum se falou de má qualidade dos vinhos.

    Cabe esclarecer que esses vinhos foram oferecidos pelo Presidente da ABS Brasília, de sua adega pessoal e, infelizmente, o Don Abel estava oxidado e o Boscato já havia passado seu pico. Problemas que foram devidamente descritos no post, inclusive com a menção "fica para a próxima", deixando claro que não se tratava da qualidade da vinícola.

    O objetivo de divulgar a qualidade dos vinhos brasileiros e estimular outras pessoas a experimentá-los foi cumprido com louvor.

    ResponderExcluir