sexta-feira, 11 de novembro de 2011

De Cara com a Fera

Decolar dos tintos do Luberon e rosés da Riviera e aterrissar em uma taça de Nebbiolo não é tarefa das mais simples.  O primeiro gole parece mais áspero e o vinho, ainda mais duro.  Mas, com o segundo gole, fui ficando mais à vontade e confortável diante da grandeza dos vinhos do Piemonte.  O resultado: três garrafas de Barolo, uma de Barbaresco e várias taças de Barbera e Dolcetto.

Cabe lembrar que a uva por excelência da região é a Nebbiolo, utilizada para a elaboração dos Barolos e Barbarescos.  A Barbera vem atrás, em segundo lugar, e a Dolcetto chega depois.  A Nebbiolo é uma uva difícil para cultivar e para fazer vinho.  Tem ciclo vegetativo muito longo, floresce cedo e amadurece tarde, sendo sensível a variações climáticas.  Além disso, a obtenção de cor é muito difícil em razão do excesso de taninos e pobreza em antocianinos, assim como a extração dos componentes fenólicos de forma equilibrada para garantir a estabilidade do vinho.  Se cuidada da forma adequada pode produzir grandes vinhos, com incrível harmonia de sensações.

Existem inúmeras hipóteses sobre a origem do nome Nebbiolo.  A versão mais popular entende seu nome mesmo vindo da névoa (“nebbia” em italiano) que seria parte fundamental dessas uvas pelo véu que se forma em suas cascas.

Hospedamos-nos na vinícola Cascina Baràc, em Alba.  Uma pequena propriedade com 15 hectares, dos quais a produção é compartilhada com outra vinícola da mesma família, a Cantina Piazzo, maior e mais conhecida.  A Cascina Baràc produz apenas 15000 garrafas, não exporta (por alguma razão burocrática sobre licença emitida pelo Ministério do Comércio italiano, conforme pude entender com meu italiano ”novela das 8“), mas tem seu hotel relacionado nos roteiros de charme da Itália.

Vista de um dos quartos do Cascina Barác, com a cidade de Treiso ao fundo
Para uma introdução ao fantástico mundo dos vinhos piemonteses, fizemos uma degustação inicial na própria Cascina.  Do Piemonte, faltou apenas um Dolcetto, o qual consegui provar depois em outras ocasiões.  

Degustação Cascina Barác

Chardonnay 2010 – Jovem, leve, fresco e frutado.  É interessante ver as diversas facetas do Chardonnay pelo mundo.  Aroma de abacaxi e flores (juro que encontrei alguma coisa de guaraná, mas vou deixar esse comentário entre parênteses para não afetar minha credibilidade).


Barbera d’Alba 2009 – Jovem, despretensioso, um vinho bem interessante para o dia a dia.  Teor alcóolico de 13,5°, passa de 6 a 8 meses em carvalho. Nariz de morango e cerejas, frutado em boca e final também frutado.

Langhe Nebbiolo  2009 – Mais encorpado que o anterior, tem 14° de álcool e permanece 8 meses em carvalho.  Aroma de compota de cereja e boca frutada com notas de chocolate.  Harmonizou bem com o salame local e é uma ótima opção para substituir o caro e difícil Barolo.


Barbaresco 2007 – Menos potente que seu “conterrâneo” Barolo, é mais elegante e bem mais fácil de beber, especialmente no que diz respeito a preços.  Aromas frutados e vegetais.  Encorpado, redondo e final persistente.


Barolo 2007 – Poderoso, encorpado.  Notas de madeira e chocolate.  Minhas anotações se perderam nessa última taça, não me lembro do resto...  Menos ainda do Moscato servido ao final.

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