domingo, 20 de novembro de 2011

Na terra dos Chiantis

A Toscana é conhecida por sua paisagem apaixonante, mas como, confesso, no outono o Piemonte me encantou mais, vou me restringir a falar de seus vinhos.

Como na Provence, a história da produção de vinhos na Toscana remonta à época dos romanos.  Se nos anos 70, os vinhos da Itália eram considerados inconsistentes, pouco maduros, acéticos e valorizavam a quantidade ao invés da qualidade, houve um tempo de glória em que os italianos - conhecidos então como romanos - ensinavam franceses, espanhóis e portugueses alguma coisa sobre a arte vinícola.  Na Grécia Antiga, a Itália era conhecida como Enotria Tellus (terra de vinhedos) e isso deve ter servido para alguma coisa...

Sim, nos útimos 40 anos, a Toscana passou por uma revolução e passou a produzir vinhos de qualidade crescente.  Nas palavras de Hugh Johnson, "é o Novo Mundo dentro do Velho".  É bom lembrar que, nessa região da Itália, os vinhos são parte essencial na cultura gastrônomica e os toscanos levam a harmonização muito a sério, não podendo o vinho se sobrepor ao prato.  Até recentemente, uma refeição sem vinho era inconcebível.  Com relação a isso e a título de esclarecimento, vale a pena mencionar o comentário de Nicolas Belfrage em seu livro sobre a Toscana: "café da manhã não é considerado refeição, é um castigo por acordar"!  Segui a recomendação à risca...

Chianti se refere a uma região que vai do sul de Florença ao norte de Siena e de Poggibonsi, no oeste, a Gaiole no leste, onde a viticultura acontece entre 250 e 500 metros de altitude e os vinhedos cobrem 10.000 ha de um total de 70.000.

Em 1967, Chianti foi promulgada uma DOC, sendo que sua zona histórica recebeu um status especial com a adição da palavra "Classico".  Em 1984, se tornou uma das primeiras DOCGs e foi possível adicionar até 10% de outras cepas internacionais em seus vinhos.  Em 1996, Chianti Classico declarou sua independência e criou suas próprias regras: até 100% de Sangiovese ou, no caso de corte com cepas internacionais, até 15%.  Em 2000, esse último percentual aumentou para 20%, o que acontece atualmente.  Em 2005, todas as garrafas de Chianti Classico passaram a receber o famoso galo preto.

Além de Classico, o Chianti pode ser Riserva ou Superiore.  O Riserva significa que o vinho foi envelhecido por mais tempo que o não-Riserva (para o Chianti Classico, 24 meses).  Superiore geralmetne significa uvas mais maduras e maior teor alcóolico.

Além de DOC e DOCG, existe a IGT, que determina a região, e Vino da Tavola, que não determina nada.  Considerando que os italianos elaboram vinho por toda parte do país e que cada prefeito quer que sua cidadela esteja relacionada no "hall of fame" das denominações, a Itália chegou a ter 500 delas, o que não é nada interessante para nós, pobres consumidores.  Para isso foi criado um novo sistema que reduz o número para 200 DOPs (Denominazione di origine protetta) e IGPs (Indicazione di origine protetta), como mencionei neste post aqui.

Com relação aos IGTs, destacam-se os Super-Toscanos.  Um pessoalzinho quis aperfeiçoar seus vinhos e descumpriram as regras de DOC e DOCG, acabaram agradando mais e fazendo mais sucesso que seus conterrâneos seguidores da lei. (Será que foi por isso que a participação permitida das uvas internacionais no corte da Toscana foi aumentando aos poucos??).  A princípio, podem vir de qualquer parte da Toscana, mas, em sua maioria, estão em Chianti Classico, justamente por ser a região mais restritiva.  Seu sucesso se refletiu nos seus preços e, claro, não provei nenhum... :(

Como se percebe, aqui também como na terra dos Barolos, a produção vinícola é dominada pelo debate entre o Novo e o Velho Mundo...

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